Tenho observado na clínica que as pessoas estão constantemente exaustas e, mesmo que tentem descansar, não conseguem. Isso se deve em parte porque estão ultra ansiosas, mas também porque hoje vivemos numa lógica que é proibido ou vergonhoso relaxar, descansar.

Estamos mergulhados em uma sociedade que valoriza o excesso de trabalho, de informação e onde “não ter tempo para nada” é sinal de status e de alguém que é protagonista de sua própria história e que consegue antecipar-se prevendo situações de fragilidade, que em outras palavras significa que a maioria das pessoas atualmente vive num estado de super vigilância.

Esta situação tornou-se normal e aceitável, impondo a cada sujeito que se torne assim, ligado e produtivo em tempo integral, sem descanso, caso contrário poderá ser visto como uma pessoa inferior, sem iniciativa e acomodada. Isso cria nas pessoas um nível de insegurança em pensar que se estiver descansando ou relaxando, perderá tempo, ficando para trás e isso poderá lhe excluir de boas oportunidades de performar na sociedade, seja no trabalho ou nas relações pessoais.

Essa lógica instala na cabeça das pessoas um dilema: descansar para poder relaxar e depois retomar a semana com as energias renovadas ou extrapolar seus limites físicos e emocionais querendo acompanhar a lógica social vigente.

Este mergulho na exaustão perene, faz com que a pessoa se isole dos amigos e da família, visto que vive para produzir e para estar “por dentro” de tudo o que acontece no mundo. Quando não se isola, a pessoa pode estar presente nas relações, mas com sua cabeça e emoções ligadas em outras coisas extras fazendo com que aqueles momentos sejam apenas para cumprir agenda sem haver trocas e interações efetivas, é como se esses momentos não tivessem existido.

É óbvio que em decorrência desta lógica atual, onde as pessoas vivem com medo de “perder tempo” e ou de “estarem por fora do que acontece”, este cenário nos faz  assistir o aumento  exponencial dos casos de ansiedade crônica e generalizada, depressão e  doenças cardíacas.

Diante do exposto é bem difícil romper com esta lógica de repente, você vai se sentir inseguro e vulnerável a julgamentos negativos, sem falar no seu autojulgamento cruel e implacável que o fará se sentir muito mal.

É necessário muita reflexão e segurança em si para poder furar essa bolha e tentar amenizar os efeitos da ditadura desta sociedade hiper produtiva, priorizando a sua saúde física e mental e a sua qualidade de vida em detrimento desta lógica voraz.

E como fazer isso?

Essas dicas podem te ajudar a começar reduzir esse estresse crônico, mas se após tentar você ainda tiver muita dificuldade em romper com essa lógica, procure ajuda de um profissional habilitado, a psicanálise pode te ajudar bastante descobrindo os motivos pelos quais você tem a necessidade de viver na lógica da exaustão, se sentindo sempre inferior a todos e por isso precisa se colocar nessa posição bastante sofrida.

Mas não se esqueça: é fundamental para o êxito no seu tratamento haver reconhecimento da dor e de seus prejuízos para você e a aceitação de ajuda.

Ressalto que a Psicanálise é um processo individualizado com variações inclusive de duração não existindo um padrão, e pelo óbvio não pode ser comparada, é uma experiência pessoal e intransferível.

Para saber mais sobre o tema da exaustão crônica, sugiro a leitura do livro: “A sociedade do cansaço” do filósofo alemão Yung-Chul Han, publicado em 2010.

Luz Marina – Psicanalista

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